AMOR SOMENTE Manuel Alegre
Em cada amor presente o amor ausente (amor como tu querias não havia) que para ti bastava amor somente e sempre em dor amor se consumia.
Talvez em ti amor fosse um repente um ver amor no amor que te não via ou talvez um buscar o verso ardente em que sempre o amor se convertia.
Tinhas que arder arder de puro ardor arder de fogo frio amor do amor amor já só ideia ou só palavra.
Cativo mas tu só libertador fosse princesa ou p uta ou fosse escrava que para ti somente amor bastava.
in Com que pena, vinte poemas para Camões, 1992 | HOMENAGEM A CAMÕES Dante Milano
Através do imitado sentimento,
Então invento o que amo e amo o que invento, Sabor de amor é esse alto respirar, o ar, cheio de fantásticas acções! in Poesias, RJ, Ed. Agir, 1948. |
sexta-feira, 30 de janeiro de 2009
O que escreveram sobre Camões (II)
O que escreveram sobre Camões (I)
“De Luís de Camões sabemos pouco, é certo, mas sabemos o suficiente para se não poder fazer dele outro modelo que não seja de singularidade. Pois em que padrão poderia transformar-se um homem que não estudou leis, não teve modo de vida conhecido, não levou nenhuma dama à igreja, não contribuiu para o aumento da população, não pertenceu a qualquer confraria, e cuja vida é capaz de ter sido mesmo das mais desgraçadas que jamais a qualquer português letrado coube em sorte? Camões, se modelo é, convenhamos que é apenas modelo de poesia e de liberdade — e isso basta.”
Eugénio de Andrade, “Quem celebra quem” in Camões, nº1, Agosto de 1980, Ed. Caminho
(Comemorações do 4º Centenário da Morte de Camões)
Entrevista a Camões
Luís Vaz de Camões – Biografia
Não se sabe ao certo quando nasceu. Terá sido por volta de 1531, possivelmente em Lisboa, filho de Simão Vaz de Camões e de Ana de Sá. Admite-se que tenha estudado em Coimbra, pois a vasta cultura evidenciada na sua obra só se justifica se tiver frequentado estudos superiores. No entanto, até hoje, não se encontrou qualquer documento comprovativo da sua passagem por essa universidade.
Presume-se que era fidalgo da pequena nobreza (Cavaleiro Fidalgo da Casa Real, assim diz a Carta de perdão de 1553), o que lhe terá dado acesso à corte, enquanto viveu em Lisboa. Sabe-se que entre 1549 e 1551, participou numa expedição militar ao Norte de África onde, num acidente de guerra, perdeu o olho direito. Em 1552, encontra-se novamente em Lisboa, e, se por um lado, frequenta o Paço onde se relaciona com a fidalguia da época e com algumas das principais damas da Corte, por outro, vive uma vida boémia, fazendo parte de bandos de brigões e colaborando em rixas violentas.
Em 1552, numa briga, fere um arrieiro do Rei, Gonçalo Borges, pelo que é preso na Cadeia do Tronco onde permanece até Março de 1553. Após ter sido perdoado pelo ferido, é solto e o poeta pede perdão ao Rei, na sequência do qual se pode justificar a sua partida para a Índia, servir o Rei, nesse mesmo ano.
Durante três anos, prestou serviço militar na Índia e posteriormente desempenhou cargos administrativos. Apesar da protecção e amizade do vice-rei, D. Francisco Coutinho, esteve preso por dívidas. Parece também ter estado em Macau e, no regresso à Índia, sofreu um naufrágio, no qual perdeu todos os bens, salvando-se a nado, com o manuscrito de Os Lusíadas, como revela na estância 128, Canto X. em 1568, ajudado pelo capitão Perro Barreto Rolim, vai para Moçambique, onde vários amigos o vão encontrar na miséria e lhe pagam a viagem de regresso a Portugal, onde chega em Abril de 1570.
Prepara, então, a publicação de Os Lusíadas, poema épico dedicado ao Rei D. Sebastião que lhe concede uma tença anual de 15 000 reais brancos, que nem sempre lhe foi paga com regularidade. Em 1572, Os Lusíadas são publicados. Para além desta obra, Camões é autor de uma vasta obra lírica e de três autos e comédias.
Os seus últimos anos de vida em Portugal terão sido anos de miséria. Morreu no dia 10 de Junho de 1580, tendo sido enterrado no Convento de Sant'Ana, onde o amigo D. Gonçalo Coutinho lhe mandou reservar uma sepultura, em cuja lápide inscreveu:
Aqui jaz Luís Vaz de Camões, príncipe dos poetas do seu tempo.
Viveu pobre e miseravelmente e assim morreu.
Desde 1880, os seus restos mortais repousam no Mosteiro dos Jerónimos.
quarta-feira, 28 de janeiro de 2009
Auto da Barca do Inferno
Materialismo
Fidalgo
Onzeneiro
Sapateiro
Frade
Alcoviteira
Judeu
Corregedor/Procurador
Hipocrisia
Fidalgo
Sapateiro
Alcoviteira
Corregedor
Exploração dos mais fracos
Fidalgo
Onzeneiro
Sapateiro
Alcoviteira
Roubo
Onzeneiro
Sapateiro
Enforcado
Corrupção
Onzeneiro
Judeu
Corregedor/Procurador
Ingenuidade
Joane
Enforcado
Imoralidade
Fidalgo
Frade
Alcoviteira
Auto da Barca do Inferno - Barca do Inferno
Auto da Barca do Inferno - Barca da Glória
Auto da Barca do Inferno – Os Quatro Cavaleiros
Quatro Cavaleiros
Provérbio: Quem não deve não teme
Símbolos cénicos:
cruz de Cristo
escudo
espada
Comportamento:
seguro
decidido
Linguagem:
peremptória (decidida)
segunda-feira, 26 de janeiro de 2009
Aurto da Barca do Inferno - O Enforcado
Enforcado (Justiça do século XVI)
Provérbio: Quem mal anda, mal acaba
Símbolos cénicos:
baraço ao pescoço
Comportamentos satirizados:
credulidade
ignorância
Linguagem:
coloquial
Observações:
é facilmente convencido pelo Diabo a entrar na barca do Inferno
morreu enganado, pois disseram-lhe que ia para o Paraíso
Aurto da Barca do Inferno - Corregedor/Procurador
Corregedor/Procurador (Magistratura)
Provérbio: As aparências iludem
Símbolos cénicos:
processos
vara
livros
Comportamentos satirizados:
corrupção
materialismo
falsa religiosidade
parcialidade na aplicação da justiça
Linguagem:
identificada com a profissão
vulgar
Observações:
a figura do Procurador completa a do Corregedor
Aurto da Barca do Inferno - O Judeu
Judeu
Provérbio: O homem é o lobo do homem
Símbolos cénicos:
bode
Comportamentos satirizados:
corrupção
materialismo
sacrílego
Linguagem:
vulgar
desbragada (descomedida)
Observações:
chama a si mesmo Jema Fará
representa o anti-judaísmo no aspecto religioso
ir à toa: simboliza o carácter errante dos judeus
Aurto da Barca do Inferno - A Alcoviteira
A Alcoviteira
Provérbio: Não se pode dissimular um elefante sob um nenúfar
Símbolos cénicos:
arcas
armários
cofres
moças
Comportamentos satirizados:
desvio das moças para a prostituição
hipocrisia
falsidade
pseudo-religiosa
estatuto marginal com aparência benemérita
Linguagem:
doce
suave
lisonjeira
choramingas
directa com o Diabo
Aurto da Barca do Inferno - O Frade
Frade (Clero)
Provérbio: O hábito não faz o monge
Símbolos cénicos:
moça
broquel
espada
casco sob o capelo
Comportamentos satirizados:
libertino
mundano: dançarino; esgrimista; cantor
Linguagem:
exuberante
Observações:
Imprime dinamismo ao auto com as suas danças, cantares e a sua lição de esgrima.
Aurto da Barca do Inferno - O Sapateiro
Símbolos cénicos:
avental e formas.
Comportamentos satirizados:
ladrão
mentiroso
falso religioso
vive de aparências
Linguagem:
Vulgar (com termos técnicos)
domingo, 25 de janeiro de 2009
sábado, 17 de janeiro de 2009
Auto da Barca do Inferno – Joane, o Parvo (I)
Os parvos têm, no teatro vicentino, uma função cómica, originada pelos disparates que proferem (cómico de linguagem).
Assim acontece neste auto, embora, em certas ocasiões, o Joane se junte às personagens alegóricas para criticar os que pretendem embarcar e sirva, algumas vezes, de comentador.
Nota: No entanto, a série de insultos que o Joane profere contra o Diabo seria, no século XVI, menos tola pelas referências a pessoas e factos então conhecidos.
sábado, 10 de janeiro de 2009
Aurto da Barca do Inferno - O Onzeneiro (II)
Onzeneiro
representante de burguesia comercial
Símbolo:
bolsão enorme
Caracterização:
materialista, usurário, avarento, ganancioso,
explorador dos mais fracos (cobrança de juros elevados).
Linguagem:
Comportamento:
avarento, usurário
Aurto da Barca do Inferno - O Onzeneiro (I)
Puxando um avarento de um pataco
para pagar a tampa de um buraco
que tinha já nas abas do casaco,
levanta os olhos, vê o céu opaco,
revira-os fulo e dá com um macaco
defronte, numa loja de tabaco...
que lhe fazia muito mal ao caco!
Diz ele então
na força da paixão:
- Há casaco melhor que aquela pele?
Trocava o meu casaco por aquele...
E até a mim... por ele...
João de Deus, Campo de Flores
quarta-feira, 7 de janeiro de 2009
segunda-feira, 5 de janeiro de 2009
As Moedas
A propósito da importância do "vil metal" na economia de um país, deixo aqui um brevíssimo quadro da História das Moedas Portuguesas.
Moedas Portuguesas – de D. Afonso Henriques aos nossos dias