terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Carta do Fidalgo a S. Pedro

Venerando São Pedro, príncipe dos Apóstolos:

Já deveis saber da injustiça de que este Teu humilde servo Anrique, Fidalgo da Casa de Sua Majestade, foi vítima, por parte da intransigência do Diabo e de um Santo Anjo que acordou mal disposto. E logo a mim, a menos habituada das criaturas de Deus a ser tratada com grosseria.

É verdade que me descuidei um bocadinho. Mandei açoitar uns aldeões com as entregas de rendas em atraso. Alarguei ligeiramente a minha propriedade com as terras de uma viúva, que acusei de bruxaria. Mas não foi por maldade. É que ela não sabia explorar essas terras. E que culpa tenho eu de ter generosamente acolhido algumas damas mal-amadas? E ainda outras pequenas coisas que não valem a pena recordar, para não maçar Vossa Santidade.

Mesmo reconhecendo esses pecadilhos, acha Vossa Santidade que um homem da minha condição, habituado ao grande sacrifício de gerir a vida social de um castelo, ilustre representante da nobreza de Portugal, deva ser condenado? Não deixei eu na Terra quem reze por mim? E aquele donativo que dei para reparar o altar-mor da capela de Nossa Senhora dos Aflitos? Não ia eu à Santa Missa com frequência? Não receberam os meus filhos (mesmo os bastardos) o santo Baptismo?

Saiba, Vossa Santidade, que se for permitido voltar à Terra, mandarei erigir uma capela (não muito grande, pois não sou rico) em Vossa Honra e hei-de obrigar todos os que trabalham nas minhas propriedades a participarem numa Procissão em Vossa memória, finda a qual se comerá só peixe.

Na expectativa de que me conceda Vossa Santidade a grã mercê de voltar à Terra, reparando a maior injustiça que o mundo já viu, subscrevo-me,

Seu devoto e humilde servo,

Anrique de Penalva, Fidalgo do Reino

(in Ser em Português 9, 2004)

segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Boas Festas


Feliz Natal e Um Ano de 2009 em CHEIO!!


sábado, 20 de dezembro de 2008

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

A Torre da Má Hora (II)

Agora do 9ºB, o trabalho da Graça e da Marta.


A Torre da Má Hora (I)

Aqui está o trabalho elaborado por um dos grupos do 9ºE: Hugo; João Costa; João Cunha e Ricardo.
Devidamente autorizado pelos Encarregados de Educação.


segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Áreas gramaticais

Uma possível hierarquia de estudo







sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

História da Língua Portuguesa

Vocábulos Pré-Latinos

a) Ibéricos. São poucos e de origem discutível: arroio, baía, balsa, bezerro, bizarro, cama, esquerdo, morro, sapo, sarna; e os sufixos: -arra, -erro, -orro (bocarra, naviarra...). b) Celtas. A influência do povo celta manifesta-se sobretudo no campo fonético: brio, caminho, camisa, carro, dólmen, grama, légua, lousa, raio, touca, Coimbra, Bragança. c) Fenícios e Cartagineses. Estes dois povos falavam a mesma língua. Alguns vocábulos que ficaram no nosso idioma: barca, mapa, saco. d) Gregos. Com origem anterior a chegada dos Romanos, temos: academia, bolsa, cara, cola, democracia, dióspiro, étimo, governar, liceu, pedagogo; etc. Com o Cristianismo muitas outras palavras gregas foram difundidas: anjo, apóstolo, bispo, bíblia, crisma, diabo, diocese, paróquia. e) do Hebreu: aleluia, ámen, sábado; Abraão, Judite, etc.

V
ocábulos Pós-Latinos - Proveniências:


a) Germânicos: Geralmente referidos a arte militar, utensílios adubar, arauto, arreio, agasalho, barão, banco, bandeira, canivete, dardo, esgrima, elmo, galardão, guerra, marechal, orgulho, rico, trégua. Os quatro pontos cardeais: Norte, Sul, Este e Oeste. Alguns nomes próprios: Ataulfo, Frederico, Godofredo, Ramiro, Recaredo, Rui.
b) Árabes. São numerosos os vocábulos de influência árabe. Muitos reconhecem-se pelo artigo AL: álcool, alface, alfazema, alfafa, alfinete, álgebra, algema, algodão, alqueire,;café, mesquinho, refém, xarope, xadrez, zero; a interjeição oxalá; (queira Alá); o pronome fulano; etc.
c) Provençais. Algumas palavras deste idioma entraram no português arcaico por influência da poesia provençal (poesia trovadoresca): anel, alegre, assaz, jogral, trovador; etc.
d) Franceses. A língua francesa é que mais tem contribuído para a língua portuguesa, desde o século XVII, sobretudo pela grande influência que a literatura francesa exerceu sobre a cultura portuguesa. São inúmeros os francesismos (ou galicismos): abat-jour, ancestral, apartamento, assassinato, atelier, avalanche, avenida, banal, bicicleta, blague, bouquet, ca-bine, chance, chauffeur (chofer), comité, detalhe, elite, envelope, feérico, felicitar, fetichismo, flanar, governante, greve, maquete, menu, nuance, omelete, reclame, restaurante, revanche, silhueta, toilette, tricot (tricô), vitrina; etc.
e) Espanhóis. Também é significativo o número de vocábulos espanhóis no nosso idioma: bolero, castanhola, cavalheiro, colcha, cordilheira, façanha, fandango, frente, hediondo, lhana, mantilha, neblina, novilho, pandeiro, pastilha, picaresco, realejo, rebelde, redondilha, sainete, trecho, etc.
f) Italianos. A maioria dos vocábulos oriundos de Itália dizem respeito à arte (pintura, música, poesia, teatro): adágio, aguarela, ária, bandolim, camarim, cenário, concerto, dueto, maestro, madrigal, piano, serenata, solfejo, soneto, soprano, tenor, violoncelo. São também de origem italiana: alerta, arlequim, balcão, banquete, boletim , carnaval, confeti, festim, fiasco, gazeta, macarrão, mortadela, palhaço, pastel, piloto, poltrona, salame, salsicha, sentinela, talharim, tômbola; etc.
g) Ingleses. Os anglicismos também são em número bastante elevado, graças às relações comerciais e políticas: bar, basquetebol, bife, clube, dólar, futebol, gin, grogue, iate, jóquei, júri, macadame, panfleto, piquenique, pudim, recital, repórter, revólver, sanduíche (posteriormente sandes), teste, túnel, turfe, etc.
h) De outras origens:
1. Alemão: bismuto, cobalto, gás, manganês, vagão, valsa, vermute, zinco.
2. Russo: bolchevique, czar, czarina, escorbuto, estepe, rublo, vodca.
3. Polaco: mazurca, polca.
4. Turco: casaca, caviar, cossaco, gaita, horta, paxá, sandália.
5. Holandês: escuma, quermesse.
6. Africano: banana, banjo, girafa, macaco, moleque, zebra; mandinga, macumba, muamba; cachaça, cuscuz; jiló, marimbombo; maxixe, batuque, berimbau; etc.
7. Americano:
- Antilhas: canoa, colibri, furacão, tabaco.
- Chile: abacate, cacau.
- México: tomate, batata.
- Peru: alpaca, charque, mate, vicunha.
- Brasil: na fauna: araponga, arara, tatu, urubu, etc; na flora: abacaxi, mandioca, sapé, etc; alimentos, utensílios, crenças, etc.: caipira, curupira, piracema, etc.; topónimos: Guanabara, Pará; etc.; antropónimos: Araci, Iracema, Jurema, Jandira, etc.
8. Pérsia: bazar, divã, paraíso, tafetá, tulipa, turbante, anil, azul, jasmim.
9. Malásia: bule, bambu, catre, jangada, manga, pires.
10. Japão: biombo, gueixa, leque, quimono.
11. China: chá, chávena, ganga, tufão.
12. Sânscrito: avatar, jambo, sândalo, suarabáctil.
Por isso, e de acordo com a origem das palavras, consideram-se, por um lado, as provenientes do Latim, e, por outro, as de origem diversa. Quanto às segundas, é costume agruparem-se em três categorias:
1. Palavras Hereditárias (desde as origens até ao séc. XII). As que existiam quando a língua começou a ganhar fisionomia própria. Isto corresponde a dizer que se trata do substrato linguístico peninsular constituído por influências dos iberos, dos celtas, dos fenícios, dos cartagineses, dos gregos, aos quais se vieram somar os germanismos e os arabismos.
2. Empréstimos (desde o séc. XI até ao séc. XVI). Pertencem a esta categoria os vocábulos que entraram para a língua depois de esta se encontrar formada, contribuindo para suprir as deficiências de um idioma ainda incipiente.
3. Estrangeirismos. São palavras de outras línguas que passaram a fazer parte da língua portuguesa. Estes vocábulos começaram a enriquecer o nosso idioma sobretudo a partir do século XVI, ou seja, na sua fase moderna.

Fases
históricas do português


1. Português Proto-histórico
Estende-se do final do século IX até ao século XII, com textos escritos em latim bárbaro (modalidade do latim usada apenas em documentos e por isso também chamada de latim tabeliónico ou dos tabeliães). Dessa fase, os mais antigos documentos são um título de doação, datado de 874, e um título de venda, de 883.

2. Português arcaico
Do século XII ao século XVI, compreendendo dois períodos distintos:
· do século XII ao XIV, com textos em galego-português;

· do século XIV ao XVI, com a separação entre o galego e o português.

A este período também se chama PERÍODO FONÉTICO e inicia-se com os primeiros documentos redigidos em português e termina no século XV.
A escrita neste período caracteriza-se pela forte tendência para ortografar as palavras tal qual eram pronunciadas: honrra; ezame; etc. Porém, a ausência de uma normalização ortográfica conduzia a uma variação na representação dos sons da linguagem falada. O som /i/, por exemplo, era representado ora por i ora por y; a nasalização realizava-se através do m ou do n o do til (bem, ben, be), etc.
Por outro lado, a ortografia não acompanhou a evolução que se operava no oral, conservando-se palavras como "ler" e "ter" grafadas com vogal dupla: "leer", "teer>.

3. Português moderno

A partir do século XVI, quando a língua portuguesa se uniformiza e adquire as características do português actual. A rica literatura renascentista portuguesa, nomeadamente a produzida por Camões, desempenhou papel fundamental nesse processo de uniformização. As primeiras gramáticas e os primeiros dicionários da língua portuguesa também datam do século XVI.

Existe um período na evolução da língua portuguesa a que também se denomina PERÍODO PSEUDO-ETIMOLÓGICO e que se inicia no século XVI e se prolonga até 1911, ano em que é decretada a reforma ortográfica, fundada nos preceitos da gramática de Gonçalves Viana, publicada em 190

As primeiras gramáticas

A primeira gramática da língua portuguesa foi publicada em 1536 por Fernão de Oliveira. A obra apresentava 50 capítulos, que abordavam desde a história da linguagem até noções de sintaxe, com destaque para os aspectos sonoros; o seu conceito de gramática era clássico: "a arte de falar e escrever correctamente". Em 1540, surge a gramática de João de Barros, cronista e historiador da expansão lusa. As duas primeiras gramáticas da língua portuguesa seguiam uma mesma filosofia humanista: a exaltação da língua portuguesa, tida como a mais próxima dos padrões latinos. Daí a latinização sintáctica e léxica dos textos literários do século XVI. (http://bibesjcp.no.sapo.pt/historiadalingua.htm)

Sobre esta temática podem consultar o sítio do Instituto Camões.

domingo, 23 de novembro de 2008

sábado, 22 de novembro de 2008

Assim escreveu… PABLO NERUDA


Morre lentamente quem não viaja,
quem não lê,
quem não ouve música,
quem destrói o seu amor próprio,
quem não se deixa ajudar.

Morre lentamente quem se transforma escravo do hábito,
repetindo todos os dias o mesmo trajecto,
quem não muda as marcas no supermercado,
não arrisca vestir uma cor nova,
não conversa com quem não conhece.

Morre lentamente quem evita uma paixão,
quem prefere o "preto no branco"
e os "pontos nos is" a um turbilhão de emoções indomáveis,
justamente as que resgatam brilho nos olhos,
sorrisos e soluços, coração aos tropeços, sentimentos.

Morre lentamente quem não vira a mesa quando está infeliz no trabalho,
quem não arrisca o certo pelo incerto atrás de um sonho,
quem não se permite,
uma vez na vida, fugir dos conselhos sensatos.

Morre lentamente quem passa os dias queixando-se da má sorte ou da
chuva incessante,
desistindo de um projecto antes de iniciá-lo,
não perguntando sobre um assunto que desconhece
e não respondendo quando lhe indagam o que sabe.

Evitemos a morte em doses suaves,
recordando sempre que estar vivo exige um esforço muito maior do que o
simples acto de respirar.
Estejamos vivos, então!»

Pablo Neruda

sábado, 15 de novembro de 2008

Teatro Vicentino

Depois do Teatro

Em Inglês e Espanhol:

Legendagem das fotografias que tirarmos.


Em Educação Visual:

Elaboração de um cartoon ou de um cartaz.

Ida ao Teatro

No próximo dia 19, vamos ao Teatro Sá da Bandeira, Porto, assistir ao Auto da Barca do Inferno de Gil Vicente, pela Companhia de Teatro Actus.
Aqui ficam algumas fotos:





O endereço electrónico: www.teatrosadabandeira.com

Gil Vicente na net

http://www.citi.pt/gilvicenteonline/html/index.html

http://www.gilvicente.eu/

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Plano Nacional de Leitura

CONCURSO NACIONAL DE LEITURA 2008/2009

1ª Fase- Escolas- 15 de Outubro de 2008 a 9 de Janeiro de 2009.

2ª Fase- Bibliotecas Públicas -Fevereiro e Março de 2009.

3ª Fase- Provas Finais - Maio de 2009.


Regulamento em:

www.planonacionaldeleitura.gov.pt

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

sábado, 1 de novembro de 2008

Expressão escrita

Terminei de corrigir os testes do 9º E e não resisto à vontade de publicar dois dos textos escritos a partir da crónica de Maria Rosa Colaço intitulada "Mulheres", em Crónicas - O Tempo e a Voz.
A tarefa consistia na reescrita da crónica, mas susbtituindo a palavra Mulheres por Adolescentes.
O texto da Ana Carrilho
Falo de adolescentes.
Das adolescentes incompreensívies que têm "montes" de segredos guardados.
Falo dos guardiães de vidas indecifráveis. Das adolescentes teimosas que povoam o Mundo e a quem o Mundo povoa de incertezas e desafios.
Há adolescentes que são como cães: são obrigados a tudo e têm nos olhos a esperança de algum dia serem eles a reinar.
Há adolescentes que são como gatos: perfumam as noites em que fogem, inutilmente perdidos; fugitivos e prisioneiros d euma vida. Dura. Invejável. Quase felizes.
Mas eu falo das adolescentes que nascem, vivem e morrem sugadas pelas obrigações dos pais, dos professores e d vida de estudante.
Falo das adolescentes que sofrem um prisão em casa; das que não podem divertir-se como os outros, dos que se alimentam dos livros, cadernos e material escolar.
Falo dos adolescentes do meu tempo, que povoam os quartos silenciososo e gastam ao longo dos dias tinta de caneta, esperando que uma porta se abra.
Falo dos adolescentes irritantes que, em bicos de pé, depositam as suas mesadas em coisas desinteressantes.
O texto do Miguel Babo
Falo de jovens adolescentes.
Dos adolescentes que têm força e vontade de existir.
Falo dos adolescentes que lutam pelo que querem. Dos adolescentes que povoam o Mundo e a quem o Mundo povoa de tristezas e alegrias.
Há adolescentes que são como máquinas de guerra: lutam até ao fim e vemos no olhar uma expressão de força de vencer.
Há adolescentes que são como as rosas: perfumam a nossa vida, inutilmente bela; visivelmente bela. Directos. Amados. Quase felizes.
Mas eu falo dos adolescentes que nascem, vivem e morrem sugados pela injustiça do Mundo.
Falo dos adolescentes que não desistem; dos que vivem a vida a lutar, dos que se alimentam da força de vontade.
Falo dos adolescentes do meu tempo, que povoam as cidades e gastam, ao longo do dia, as forças esperando vencer.
falo dos adolescentes com problemas que acreditam nos seus valores, depositam a vontade de viver.
Dois exemplos de sensibilidade e percepção adolescente.

sexta-feira, 31 de outubro de 2008

sábado, 25 de outubro de 2008

Análise do conto "O Tesouro", de Eça de Queirós (Sistematização)

ESTRUTURA DA ACÇÃO

  • Introdução (três primeiros parágrafos) – Apresentação das personagens e descrição do ambiente em que vivem até à descoberta do tesouro.
  • Desenvolvimento (até ao penúltimo parágrafo) – Descoberta do tesouro, decisão de partilha e esforços para eliminar os concorrentes;
  • Conclusão (dois últimos parágrafos) – Situação final.
  • Da conclusão depreende-se que, se considerarmos a história dos "três irmãos de Medranhos", estamos perante uma narrativa fechada; ao invés, se nos centrarmos sobre o "tesouro", teremos de considerar a narrativa aberta, dado que ele continua por descobrir (...ainda lá está, na mata de Roquelanes.).

Também o desenvolvimento tem uma estrutura tripartida:

  • Descoberta do tesouro e decisão de o partilhar;
  • Rui e Rostabal decidem matar Guanes; morte de Guanes; morte de Rostabal;
  • Rui apodera-se do cofre e morre envenenado.

A articulação das sequências narrativas (momentos de avanço) faz-se por encadeamento. Os momentos de pausa abrem e fecham a narrativa e interrompem regularmente a narração com descrições (espaço, objectos, personagens) e reflexões.

AS PERSONAGENS

RUI

Caracterização física: gordo e ruivo.
Caracterização psicológica: "avisado", calculista, traiçoeiro.

GUANES

Caracterização física: pele negra, pescoço de grou. Caracterização psicológica: desconfiado, calculista, traiçoeiro.

ROSTABAL

Caracterização física: alto, cabelo comprido, barba longa, olhos raiados de sangue. Caracterização psicológica: ingénuo, impulsivo.

Predomina o processo de caracterização directa, visto que a maior parte das informações são-nos dadas pelo narrador. No entanto, os traços de traição e premeditação de Rui e Guanes são deduzidos a partir do seu comportamento (caracterização indirecta). As personagens começam por ser apresentadas colectivamente (Os três irmãos de Medranhos...), mas, à medida que a acção progride, a sua caracterização vai-se individualizando, como que sublinhando o predomínio do egoísmo individual sobre a aparente fraternidade.

TEMPO

Tempo histórico – A referência ao "Reino das Astúrias" permite, por um lado, localizar a acção por volta do século IX, já que os árabes invadiram a Península Ibérica no século VIII (a ocupação iniciou-se em 711 e prolongou-se por vários anos); por outro, no século X o Reino de Leão, que sucedeu ao das Astúrias, encontra-se já constituído.
Tempo da história – A acção decorre entre o Inverno e a Primavera, mas concentra-se num domingo de Primavera, estendendo-se de manhã até à noite. O

Inverno está conotado com a escuridão, a noite, o sono, a morte. E é no Inverno que nos são apresentadas as personagens, envoltas na decadência económica, no isolamento social e na degradação moral (E a miséria tornara estes senhores mais bravios que lobos.). Por sua vez, a Primavera tem uma conotação positiva, associa-se à luz, à cor, ao renascimento da natureza, sugere uma vida nova, enquanto o domingo é um dia santo, favorável ao renascimento espiritual.
A acção central inicia-se na manhã de domingo e progride durante o dia. À medida que a noite se aproxima a tragédia vai-se preparando. Quando tudo termina, com a morte sucessiva dos irmãos, a noite está a surgir (Anoiteceu.).

Tempo do discurso – A acção estende-se do Inverno à Primavera e o seu núcleo central concentra-se num dia, desde a manhã até à noite. A condensação de um tempo da história tão longo (presumivelmente três ou quatro meses) numa narrativa curta (conto) implica a utilização sistemática de sumários ou resumos (processo pelo qual o tempo do discurso é menor do que o tempo da história). [Nos momentos mais significativos da acção (decisão de repartir o tesouro e partilha das chaves, bem como a argumentação de Rui para excluir Guanes da partilha) o tempo do discurso tende para a isocronia (igual duração do tempo da história e do tempo do discurso), sem no entanto a atingir.]
É possível também identificar no texto um outro processo de redução do tempo da história, que é a elipse (eliminação, do discurso, de períodos mais ou menos longos da história). A parte inicial da acção é localizada no Inverno (...passavam eles as tardes desse Inverno...) e logo a seguir o narrador remete-nos para a Primavera (Ora, na Primavera, por uma silenciosa manhã de domingo...).

Quanta à ordenação dos acontecimentos, predomina o respeito pela sequência cronológica. Só na parte final nos surge uma analepse (recuo no tempo), quando o narrador abandona a postura de observador e adopta uma focalização omnisciente, para revelar o modo como Guanes tinha planeado o envenenamento dos irmãos, manifestando dessa forma a natureza traiçoeira do seu carácter.

Frequentemente, a analepse permite esconder do narratário pormenores importantes para a compreensão dos acontecimentos, mantendo assim um suspense favorável à tensão dramática.

ESPAÇO

A acção é localizada nas Astúrias e decorre, a parte inicial, nos Paços de Medranhos e, a parte central, na mata de Roquelanes. Somente o episódio do envenenamento do vinho é situado num local um pouco mais longínquo, na vila de Retorquilho.

O Paço dos Medranhos é descrito negativamente, por exclusão (...a que o vento da serra levara vidraça e telha...), e os três irmãos circulam entre a cozinha (sem lume, nem comida) e a estrebaria, onde dormem, para aproveitar o calor das três éguas lazarentas.

O facto de três fidalgos passarem os seus dias entre a cozinha e a estrebaria, os lugares menos nobres de um palácio, é significativo: caracteriza bem o grau de decadência económica em que vivem. A miséria em que vivem é acompanhada por uma degradação moral que o narrador não esconde (E a miséria tornara estes senhores mais bravios que lobos.).

De igual modo, o espaço exterior, a mata de Roquelanes, não é um simples cenário onde decorre a acção. As descrições da natureza têm também um carácter significativo. A relva nova de Abril, manifestação visível do renascimento da natureza, sugere o renascimento espiritual que as personagens, como veremos, não são capazes de concretizar. Do mesmo modo, a "moita de espinheiros" e a "cova de rocha" simbolizam as dificuldades, os sacrifícios, que é necessário enfrentar para alcançar o objecto pretendido — são obstáculos que é necessário ultrapassar.

A natureza, calma, pacífica, renascente (...um fio de água, brotando entre rochas, caía sobre uma vasta laje escavada, onde fazia como um tanque, claro e quieto, antes de se escoar para as relvas altas.), contrasta com o espaço interior das personagens, que facilmente imaginamos inquietas, agitadas, perturbadas pela visão do ouro e ansiosas por dele se apoderarem, com exclusão dos demais. Enquanto isso as duas éguas retouçavam a boa erva pintalgada de papoulas e botões-de-ouro. Esse contraste tinha já sido posto em evidência antes, depois dos três terem contemplado o ouro (...estalaram a rir, num riso de tão larga rajada que as folhas tenras dos olmos, em roda, tremiam...). E, quando Rui e Rostabal esperam, emboscados, o irmão, um vento leve arrepiou na encosta as folhas dos álamos, como se a natureza sentisse o horror do crime que estava para ser cometido. Depois de assassinado Guanes, os dois regressam à "clareira onde o sol já não dourava as folhas".

SIMBOLOGIA

À leitura do conto ressalta de imediato a referência insistente ao número três, de todos os números aquele que carrega maior carga simbólica. Desde logo, são três os irmãos; e o três é também um símbolo da família — pai, mãe, filho(s). Mas aqui encontramos uma família truncada, imperfeita — nem pais, nem filhos, apenas três irmãos. Não há, aliás, a mais leve referência aos progenitores dos fidalgos de Medranhos, como se eles nunca tivessem existido. Essa ausência da narração é, de certo modo, um símbolo da sua ausência na educação dos filhos. Sem a presença modeladora dos pais (ou alguém que os substituísse), Rui, Guanes e Rostabal dificilmente poderiam desenvolver sentimentos humanos: vivem como lobos, porque — imaginamos nós — cresceram como lobos.

Eles próprios não foram capazes de constituir uma família verdadeira, do mesmo modo que os três, apesar dos laços de sangue e de viverem juntos, não formam uma família e sempre pela mesma razão: porque são incapazes de sentir o amor.

O tesouro está guardado num cofre. Um cofre protege, preserva, permite que o seu conteúdo permaneça intocado ao longo do tempo. A sua utilização é significativa do carácter precioso do conteúdo. Igualmente significativo é o facto de o cofre ser de ferro, material resistente, simultaneamente, à força e à corrupção.

Três fechaduras — novamente o número "três" — preservam o conteúdo do cofre (Da curiosidade? Da cobiça? Da apropriação indevida?...), mas três chaves permitem abri-lo sem dificuldade. Note-se: nenhuma delas, só por si, mas as três em conjunto. O simbolismo aqui é evidente. Só a cooperação dos três proprietários permite aceder ao tesouro. É pela solidariedade, pela cooperação, pela convergência de interesses e esforços que é possível alcançar o "tesouro" por todos almejado. Foi apenas porque, momentaneamente, os três cooperaram, que lhes foi permitido contemplar o "tesouro". E porque não souberam manter esse espírito de cooperação, não lhes foi permitido possuir o "tesouro".

E quando Rui expõe a estratégia a seguir, o número "três" volta a aparecer insistentemente (...três alforges de couro, três maquias de cevada, três empadões de carne e três botelhas de vinho.), como que a sublinhar o irredutível individualismo que os vai conduzir à tragédia.

Por outro lado, o ouro, material precioso e incorruptível, é ele próprio símbolo de perfeição. Obviamente, para além do seu valor material, simboliza a salvação, a elevação a uma forma superior de vida, mais espiritual, menos animal. É esse o verdadeiro bem, o verdadeiro tesouro. Os fidalgos de Medranhos vivem mergulhados na decadência material e na degradação moral. Não se lhes conhece uma actividade útil, um sentimento mais elevado, um afecto. Vivem com os animais e como animais. Mas para eles, como para todo o ser humano, há uma possibilidade de redenção. O "tesouro" está ali, à sua frente, é possível alcançá-lo; mas, para isso, é necessário enfrentar dificuldades, largar a cobiça, vencer o egoísmo, criar laços de solidariedade e verdadeira fraternidade.

É possível encontrar no conto outros símbolos. Vimos já o significado que o Inverno, a Primavera, o domingo assumem neste contexto. Mas há também a água, símbolo de vida (vemo-la na clareira, escoando-se por entre a relva que cresce e Rui procura combater o veneno com ela) e de purificação (com a água, Rostabal pretende livrar-se do sangue do irmão que assassinou). O dístico em letras árabes mal legível, remete para um passado distante, mítico, um tempo de paz, equilíbrio e perfeição, uma idade de ouro que poderá ser recuperada por quem conseguir encontrar o "tesouro.

INDÍCIOS TRÁGICOS

Frequentemente, na narrativa, a tragédia é anunciada antecipadamente por indícios, que as personagens ignoram, mas não passam despercebidos ao leitor atento. É o caso da cantiga que Guanes entoa ao dirigir-se à vila e continua a cantarolar quando regressa.

Olé! Olé!

Sale la cruz de la iglesia,

Vestida de negro luto...

A "cruz" e o "negro luto" são referências claras à morte que Guanes planeia para os irmãos. Mas ironicamente prenuncia também a sua própria morte. Como se vê, nenhuma das três personagens é capaz de reconhecer esse sinal.
Outro indício trágico: as duas garrafas que Guanes trouxe de Retorquilho. Rui estranha o facto, mas não suspeita da traição. Se as personagens fossem capazes de interpretar esses indícios poderiam fugir ao destino. Mas são incapazes disso e é desse lento aproximar do desenlace e da incapacidade das personagens para o evitar que resulta a dimensão trágica da narrativa.

Vida e Obra de Manuel da Fonseca

Nasceu em Santiago do Cacém, em 1911. Fez os estudos secundários em Lisboa, tendo-se dedicado desde cedo ao jornalismo. Em 1925, publicou, num semanário da província, os seus primeiros versos e narrativas.
Iniciou-se na poesia com a Colectânea Rosa dos Ventos (1940) e na ficção com os contos Aldeia Nova (1942). Ligado ao neo-realismo* evoluiu no sentido de um regionalismo crescente, ligado ao seu Alentejo natal, retratando o povo desta região e a miséria por ele sofrido. Contestatário e observador por natureza, a sua escrita era seguida de perto pela censura.
Colaborou em várias publicações: Afinidades, Altitude, Árvore, Vértice, O Pensamento, Sol Nascente, Seara Nova; nos jornais O Diabo e Diário; fez parte, ainda, do grupo O Novo Cancioneiro.
Escreveu também os volumes de poesia Planície (1941), Poemas Completos (1958), Poemas Dispersos (1958), os contos O Fogo e as Cinzas (19519, Um Anjo no trapézio (1968), Tempo de Solidão (1973), Crónicas Algarvias (1986) e os romances Cerromaior (1943) e Seara de Vento (1958).

Colaborou também no jornal A Capital, em 1986, com as Crónica Algarvias. Preparou ainda a Antologia de Fialho de Almeida (1984).

Faleceu em 1993.

(Rafaela Mendes – 9ºE)


*Neo-realismo

Corrente literária de influência italiana que anexa algumas componentes da literatura brasileira, nomeadamente a da denúncia das injustiças sociais do romance nordestino. Quer na poesia, quer na prosa, o neo-realismo assume uma dimensão de intervenção social, agudizada pelo pós-guerra e pela sedução dos sistemas socialistas que o clima português de ditadura mitifica.
A sua matriz poética concentra-se no grupo do Novo Cancioneiro, colecção de poesia, com Sidónio Muralha, João José Cochofel, Carlos de Oliveira, Manuel da Fonseca, Mário Dionísio, Fernando Namora e outros.
No romance, Soeiro Pereira Gomes, com Esteiros, e Alves Redol, com Gaibéus, de 1940, inauguraram, na ficção, uma obra extensa e representativa, que também muitos dos outros poetas mencionados (sobretudo os quatro primeiros) contribuíram para enriquecer.
O romance neo-realista reactiva os mecanismos da representação narrativa, inspirando-se das categorias marxistas de consciência de classe e de luta de classes, fundando-se nos conflitos sociais que põem sobretudo em cena camponeses, operários, patrões e senhores da terra, mas os melhores dos seus textos analisam de forma acutilante as facetas diversas dessas diversas entidades, o que se pode verificar, nomeadamente, em Uma Abelha na Chuva, de Carlos de Oliveira, Seara de Vento, de Manuel da Fonseca, O Dia Cinzento, de Mário Dionísio e Domingo à Tarde, de Fernando Namora.
Na confluência com o existencialismo e com certas componentes da modernidade, são de salientar as obras mais tardias de José Cardoso Pires, O Anjo Ancorado e O Hóspede de Job, de Urbano Tavares Rodrigues, Bastardos do Sol, de Alexandre Pinheiro Torres, A Nau de Quixibá, ou de Orlando da Costa, Podem Chamar-me Eurídice.
(Instituto Camões)


sábado, 18 de outubro de 2008

TIPOLOGIAS TEXTUAIS (II)

2. Texto descritivo

O que pode ser descrito:

- tempo histórico-social;

- tempo atmosférico;

- espaço/lugar

- pessoa (retrato)

o seu corpo (retrato físico);

a sua maneira de ser e de se comportar (retrato psicológico) ;

- objectos.

Finalidade da descrição: os momentos descritivos de um texto fornecem o pano de fundo, o cenário de acções ou estados de coisas.

Recursos da língua:
- adjectivos e expressões qualificadoras;
- verbos de estado ou verbos copulativos;
- verbos no presente do indicativo ou no pretérito imperfeito do indicativo.

Modos de organização textual hierárquica:
- indicação do que se vai descrever (tempo, espaço, pessoa), referido globalmente;
- divisão nas suas partes constitutivas, com a indicação das características de cada parte;
- cada parte pode ainda sofrer subdivisões, com nova gama de características a discriminar.

(Fonte: A Casa da Língua, 9º. Porto Editora)

Esse quarto grande e comprido comunica com um quarto pequeno e quadrado, onde a parede da esquerda está quase totalmente ocupada por um toucador de mogno e mármore que tem, no centro um grande espelho oval. No toucador reinam os boiões e os frascos, as escovas e os pentes. Há o frasco de vidro dentro da caixa verde, a caixa de loiça, a tesoira, o anel esquecido, a écharpe caída.

Sophia de Mello B. Andresen, "A casa do Mar", in Histórias da Terra e do Mar.


quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Discurso Directo/Discurso Indirecto

Sistematização


1.Discurso Directo: corresponde à transcrição das falas das personagens, num texto. Formalmente, no texto escrito, surge depois de dois pontos – antecedidos ou não de um verbo declarativo (dizer, perguntar, responder, …) -, parágrafo e travessão.

2. Discurso Indirecto: corresponde à reprodução da fala de personagens, por outra personagem ou pelo narrador, implicando algumas transformações, sobretudo ao nível dos indicadores de tempo e de espaço.



Discurso directo:

Sujeito da enunciação (todos os determinantes e pronomes associados ao sujeito da enunciação, bem como a pessoa verbal )
1ª e 2ª pessoas
Tempo e modo verbal
Presente; pretérito perfeito; futuro e imperativo.
Elementos definidores de espaço e tempo (advérbios de tempo e de lugar)

Maior proximidade Ex.: aqui, agora

Discurso Indirecto:

Sujeito da enunciação (todos os determinantes e pronomes associados ao sujeito da enunciação, bem como a pessoa verbal)

3ªPessoa
Tempo e modo verbal
Pretéritos: imperfeito, mais-que-perfeito
condicional; imperfeito do conjuntivo

Elementos definidores de espaço e tempo (advérbios de tempo e de lugar)
Maior afastamento Ex.: acolá, naquele lugar, dantes, ...


Nota: No discurso indirecto utiliza-se a seguir ao verbo a conjunção integrante que (disse que…) ou se (perguntou se …) no caso das interrogativas.

Discurso directo:
- Vai para casa – disse a mãe.
Discurso indirecto:
A mãe disse que fosse para casa.

Discurso directo:
- Gostas de cozinhar, Pedro? – perguntou a Mariana.
Discurso indirecto:
A Mariana perguntou ao Pedro se ele gostava de cozinhar.
(Fonte: Preparação para o exame Nacional, 9º ano. Porto Editora)
Tarefa:
Transformar (discurso directo/discurso indirecto) os últimos cinco parágrafos do conto A Torre da Má Hora (pág. 78).

Discurso Directo e Discurso Indirecto:

http://ciberduvidas.sapo.pt/pergunta.php?id=16249


quarta-feira, 15 de outubro de 2008

sábado, 11 de outubro de 2008

Resumo e reconto

Palavras Parónimas

Menina dos olhos verdes,
Porque me não vedes?

Eles verdes são,
E têm por usança
Na cor, esperança,
E nas obras não.
Vossa condição
Não é de olhos verdes
Porque me não vedes.

Haviam de ser,
Por que possa vê-los,
Que uns olhos tão belos
Não se hão-de esconder;
mas fazeis-me crer
Que já não são verdes,
Porque me não credes.
Luís de Camões, Lírica.


O Nosso Ruas
Inda não é tão roaz como parece
Porque se compadece
Cá da rapaziada postulante;
Mas o tratante
Do Frederico
Quer só feder de rico
Juntando aos dezasseis tostões, aos trinta,
Inda que nos engane! inda que minta.
João de Deus, Campo de Flores.

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

Vida de Estudante

Estudar é muito importante,
mas pode-se estudar de várias maneiras...
Muitas vezes estudar não é só aprender
o que vem nos livros.
Estudar não é só ler nos livros
que há nas escolas.
É também aprender a ser livres
sem ideias tolas.
Ler um livro é muito importante,
às vezes, urgente.
Mas os livros não são o bastante
para a gente ser gente.
É preciso aprender a escrever,
mas também a viver,
mas também a sonhar.
É preciso aprender a crescer,
aprender a estudar.
Aprender a crescer quer dizer:
aprender a estudar, a conhecer os outros,
a ajudar os outros,
a viver com os outros.
E quem aprende a viver com os outros
aprende sempre a viver bem consigo próprio.
Não merecer um castigo é estudar.
Estar contente consigo é estudar.
Aprender a terra, aprender o trigo
e ter um amigo também é estudar.
Estudar também é repartir,
também é saber dar
o que a gente souber dividir
Para multiplicar.
Estudar é escrever um ditado
sem ninguém nos ditar;
e se um erro nos for apontado
é sabê-lo emendar.
É preciso, em vez de um tinteiro,
ter uma cabeça que saiba pensar,
pois, na escola da vida,
primeiro está saber estudar.
Contar todas as papoilas de um trigal
é a mais linda conta que se pode fazer.
Dizer apenas música,
quando se ouve um pássaro,
pode ser a mais bela redacção do mundo...
Estudar é muito mas pensar é tudo!
José Carlos Ary dos Santos

Trabalho...

Não se esqueçam de ler o conto "A Torre da Má Hora", de Manuel da Fonseca.

sábado, 27 de setembro de 2008

TIPOLOGIAS TEXTUAIS (I)

1. Texto Narrativo

Categorias da Narrativa
From: profteresa



P Pcategorias Narrativa
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Plano Nacional de Leitura



As obras seleccionadas...

Casting, de Jordi Sierra i Fabra

Contos Orientais, de Marguerite Yourcenar

Principezinho, de Antoine de Saint.Exupéry



Boas Leituras!

sexta-feira, 26 de setembro de 2008

Conto de Autor

O primeiro conto de autor que estudaremos intitula-se O Sexto Filho e foi escrito por Vergílio Ferreira.

Sobre o autor:
Nasceu em Melo, no concelho de Gouveia, em Janeiro de 1916, filho de António Augusto Ferreira e de Josefa Ferreira. A ausência dos pais, emigrados nos Estados Unidos, marcou toda a sua infância e juventude. Após uma peregrinação a Lourdes, e por sugestão dos familiares, frequenta o Seminário do Fundão durante seis anos. Daí sai para completar o Curso Liceal na cidade da Guarda. Ingressa em 1935 na Faculdade de Letras a Universidade de Coimbra, onde concluirá o Curso de Filologia Clássica em 1940. Dois anos depois, terminado o estágio no liceu D. João III, nesta mesma cidade, parte para Faro onde iniciará uma prolongada carreira como docente, que o levará a pontos tão distantes como Bragança, Évora ou Lisboa.
Este homem reuniu em si diversas facetas, a de filósofo e a de escritor, a de ensaísta, a de romancista e a de professor. A sua produção literária reflecte uma séria preocupação com a vida e a cultura. Este escritor confessou em A Invocação ao meu Corpo (1969) trazer em si a força monstruosa de interrogar, mais forte que a força de uma pergunta. Porque a pergunta é uma interrogação segunda ou acidental e a resposta a espera para que a vida continue. Mas o que eu trago em mim é o anúncio do fim do mundo, ou mais longe, e decerto, o da sua recriação. Este pensador tecia reflexões constantes acerca do sentido da vida, sobre o mistério da existência, acerca do nascimento e da morte, enfim, acerca dos problemas da condição humana. Ainda nos restou o imenso homem, que ficou dentro da obra, pois, como o próprio declarou, o autor nunca pode ser dissociado da sua obra porque nela vive, respira e dela fica impregnado. Vergílio entregava-se à escrita de corpo e alma, tinha essa obsessão; após a qual se sentia vazio, mas depois de um livro voltava a renovar-se para dar corpo a outro. Escrever, escrever, escrever. Toma-me um desvairamento como o de ébrio, que tem mais sede com o beber para o beber, ou do impossível erotismo que vai até ao limite de sangrar. Escrever. Sentir-me devorado por essa bulimia, a avidez sôfrega que se alimenta do impossível (Pensar, 1992).A obra de Vergílio Ferreira recebeu influências do existencialismo de Satre, de Marco Aurélio, Santo Agostinho, Pascal, Dostoievski, Jaspers, Kant e Heidegger. Os clássicos gregos e latinos como Ésquilo, Sófocles e Lucrécio, também assumiram uma importância vital nos pensamentos deste escritor .

Obras publicadas:


Ficcção: 1943 O Caminho fica Longe ; 1944 Onde Tudo foi Morrendo; 1946 Vagão "J" ; 1949 Mudança; 1953 A Face Sangrenta; 1953 Manhã Submersa; 1959 Aparição; 1960 Cântico Final; 1962 Estrela Polar; 1963 Apelo da Noite; 1965 Alegria Breve; 1971 Nitido Nulo; 1972 Apenas Homens; 1974 Rápida, a Sombra; 1976 Contos; 1979 Signo Sinal; 1983 Para Sempre; 1986 Uma Esplanada Sobre o Mar; 1987 Até ao Fim; 1990 Em Nome da Terra; 1993 Na Tua Face; 1996 Cartas a Sandra.


Ensaios: 1943 Sobre o Humorismo de Eça de Queirós; 1957 Do Mundo Original; 1958 Carta ao Futuro 1963 Da Fenomenologia a Sartre; 1963 Interrogação ao Destino, Malraux; 1965 Espaço do Invisivel I; 1969 Invocação ao Meu Corpo, 1976 Espaço do Invisivel II; 1977 Espaço do Invisivel III; 1981 Um Escritor Apresenta-se; 1987 Espaço do Invisivel IV ; 1988 Arte Tempo.


Diários: 1980 Conta-Corrente I; 1981 Conta-Corrente II; 1983 Conta-Corrente III; 1986 Conta-Corrente IV; 1987 Conta-Corrente V; 1992 Pensar; 1993 Conta-Corrente-nova série I; 1993 Conta-Corrente-nova série II; 1994 Conta-Corrente-nova série III ; 1994 Conta-Corrente-nova série IV .


O que disse Vergílio...

O melhor de uma verdade é o que dela nunca se chega a saber.

Escrever é ter a companhia do outro de nós que escreve.

O amor afirma, o ódio nega. Mas por cada afirmação há milhentas de negação. Assim o amor é pequeno em face do que se odeia. Vê se consegues que isso seja mentira. E terás chegado à verdade.

Não penses que a sabedoria é feita do que se acumulou. Porque ela é feita apenas do que resta depois do que se deitou fora.

Ama o impossível, porque é o único que te não pode decepcionar.

Falar alto para quê? Poupa as forças, fala baixo. Poderás talvez assim ser ouvido ainda, quando os outros que falam alto se calarem estoirados.

Ser inteligente é ser desgraçado. O imbecil é feliz. Mas o animal também.

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Literatura de transmissão oral

Para além do conto popular, há outros textos que se incluem na literatura de transmissão oral:

A lenda: relato oral ou escrito de acontecimentos reais ou fictícios do passado, que pertence ao património cultural do povo

O provérbio: máxima ou sentença de carácter prático e popular; breve e sugestivo a nível dos sentidos.

A fábula: narrativa alegórica, em forma de prosa ou verso, cujos personagens são geralmente animais com características humanas, sustentam um diálogo, cujo desenlace reflecte uma lição de moral. É uma narrativa inverosímil, com fundo didáctico.
Quando os personagens são seres inanimados, objectos, a fábula recebe o nome de apólogo. A temática é variada e contempla tópicos como a vitória da fraqueza sobre a força, da bondade sobre a astúcia e a derrota de presunçosos.


Uma lenda…de Guimarães

Egas Moniz, o Aio

Conta a lenda que, por altura do cerco a Guimarães, Egas Moniz, aio de D. Afonso Henriques, decidiu negociar a paz com o monarca castelhano Afonso VII. A troco da paz prometeu-lhe a vassalagem de D. Afonso Henriques e dos nobres que o apoiavam. Afonso VII aceitou a palavra de Egas Moniz.
Um ano depois, D. Afonso Henriques quebrou o prometido e resolveu invadir a Galiza.Vestidos de condenados, Egas Moniz e a sua família apresentaram-se na côrte de D. Afonso VII, em Castela, pondo nas mãos do rei as suas vidas como penhor da promessa quebrada. O rei castelhano, diante da coragem e humildade de Egas Moniz, decidiu perdoar-lhe. Ao entregar-se, Egas Moniz ressalvava a sua honra e também a de Afonso Henriques, assegurando através da sua astúcia a futura independência de Portugal. (Fonte: Infopédia)

sábado, 13 de setembro de 2008

O Sonho

pelo Sonho é que vamos
comovidos e mudos.
Chegamos? Não chegamos?
Haja ou não haja frutos,
Pelo Sonho é que vamos.

Basta a fé no que temos.
Basta a esperança naquilo
que talvez não teremos.
Basta que a alma dêmos,
com a mesma alegria,
ao que desconhecemos
e ao que é do dia-a-dia.

Chegamos? Não chegamos?

- Partimos. Vamos. Somos.
Sebastião da Gama, Pelo Sonho é que Vamos


Assim escreveu este grande pedagogo.

Neste último ano do 3º ciclo, também te interrogarás:

Iniciar o 9º ano é um sonho, a conclusão de um sonho ou a aproximação a um sonho maior?

Finalmente começou...


o novo ano lectivo!!!


Recomeçar é sempre bom, recomeçamos esperando mil coisas novas e interessantes; rever os amigos e fazer novas amizades; muito sucesso (aquele que conseguimos a custo no ano anterior); professores fixes e pouco trabalho. Ups! Este último talvez não. O 9º ano é um ano de muiiiiito trabalho ou não tivéssemos à nossa espera um espectro assustador lá bem no fim do ano - o Exame Nacional.

Mas antes de começar, leiamos o que disse Miguel Torga

Recomeça...
Se puderes,
Sem angústia e sem pressa.
E os passos que deres,
Nesse caminho duro
Do futuro,
Dá-os em liberdade.
Enquanto não alcances
Não descanses.
De nenhum fruto queiras só metade.

E, nunca saciado,
Vai colhendo
Ilusões sucessivas no pomar.
Sempre a sonhar
E vendo,
Acordado,
O logro da aventura.
És homem, não te esqueças!
Só é tua a loucura
Onde, com lucidez, te reconheças.
Diário XIII