sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

O que escreveram sobre Camões (II)

AMOR SOMENTE Manuel Alegre

Em cada amor presente o amor ausente

(amor como tu querias não havia)

que para ti bastava amor somente

e sempre em dor amor se consumia.

Talvez em ti amor fosse um repente

um ver amor no amor que te não via

ou talvez um buscar o verso ardente

em que sempre o amor se convertia.

Tinhas que arder arder de puro ardor

arder de fogo frio amor do amor

amor já só ideia ou só palavra.

Cativo mas tu só libertador

fosse princesa ou p uta ou fosse escrava

que para ti somente amor bastava.

in Com que pena, vinte poemas para Camões, 1992

HOMENAGEM A CAMÕES Dante Milano

Através do imitado sentimento,
ao ler-te, quanta vez tenho sentido
como é muito maior o amor vivido
em acto não, mas só em pensamento.

Então invento o que amo e amo o que invento,
em coisas sem razão tão comovido
que o ar me falta e o respiro comprimido
não sei se dá, não sei se tira o alento.

Sabor de amor é esse alto respirar,
essa angústia em suspiros mal dispersos,
Em amor, que importância tem o ar,

o ar, cheio de fantásticas acções!
Assim, aquele que imitar teus versos,
primeiro imite o teu amor, Camões.

in Poesias, RJ, Ed. Agir, 1948.

O que escreveram sobre Camões (I)

“De Luís de Camões sabemos pouco, é certo, mas sabemos o suficiente para se não poder fazer dele outro modelo que não seja de singularidade. Pois em que padrão poderia transformar-se um homem que não estudou leis, não teve modo de vida conhecido, não levou nenhuma dama à igreja, não contribuiu para o aumento da população, não pertenceu a qualquer confraria, e cuja vida é capaz de ter sido mesmo das mais desgraçadas que jamais a qualquer português letrado coube em sorte? Camões, se modelo é, convenhamos que é apenas modelo de poesia e de liberdade — e isso basta.”

Eugénio de Andrade, “Quem celebra quem” in Camões, nº1, Agosto de 1980, Ed. Caminho

(Comemorações do 4º Centenário da Morte de Camões)

Entrevista a Camões


Não esquecer:


Alunos do 9ºB: João Costa e Gil Varela
Alunos do 9ºE: Ana Carrilho e Hugo Silva

Apresentação à turma: 4ª feira, dia 4.

Luís Vaz de Camões – Biografia


Não se sabe ao certo quando nasceu. Terá sido por volta de 1531, possivelmente em Lisboa, filho de Simão Vaz de Camões e de Ana de Sá. Admite-se que tenha estudado em Coimbra, pois a vasta cultura evidenciada na sua obra só se justifica se tiver frequentado estudos superiores. No entanto, até hoje, não se encontrou qualquer documento comprovativo da sua passagem por essa universidade.

Presume-se que era fidalgo da pequena nobreza (Cavaleiro Fidalgo da Casa Real, assim diz a Carta de perdão de 1553), o que lhe terá dado acesso à corte, enquanto viveu em Lisboa. Sabe-se que entre 1549 e 1551, participou numa expedição militar ao Norte de África onde, num acidente de guerra, perdeu o olho direito. Em 1552, encontra-se novamente em Lisboa, e, se por um lado, frequenta o Paço onde se relaciona com a fidalguia da época e com algumas das principais damas da Corte, por outro, vive uma vida boémia, fazendo parte de bandos de brigões e colaborando em rixas violentas.

Em 1552, numa briga, fere um arrieiro do Rei, Gonçalo Borges, pelo que é preso na Cadeia do Tronco onde permanece até Março de 1553. Após ter sido perdoado pelo ferido, é solto e o poeta pede perdão ao Rei, na sequência do qual se pode justificar a sua partida para a Índia, servir o Rei, nesse mesmo ano.

Durante três anos, prestou serviço militar na Índia e posteriormente desempenhou cargos administrativos. Apesar da protecção e amizade do vice-rei, D. Francisco Coutinho, esteve preso por dívidas. Parece também ter estado em Macau e, no regresso à Índia, sofreu um naufrágio, no qual perdeu todos os bens, salvando-se a nado, com o manuscrito de Os Lusíadas, como revela na estância 128, Canto X. em 1568, ajudado pelo capitão Perro Barreto Rolim, vai para Moçambique, onde vários amigos o vão encontrar na miséria e lhe pagam a viagem de regresso a Portugal, onde chega em Abril de 1570.

Prepara, então, a publicação de Os Lusíadas, poema épico dedicado ao Rei D. Sebastião que lhe concede uma tença anual de 15 000 reais brancos, que nem sempre lhe foi paga com regularidade. Em 1572, Os Lusíadas são publicados. Para além desta obra, Camões é autor de uma vasta obra lírica e de três autos e comédias.

Os seus últimos anos de vida em Portugal terão sido anos de miséria. Morreu no dia 10 de Junho de 1580, tendo sido enterrado no Convento de Sant'Ana, onde o amigo D. Gonçalo Coutinho lhe mandou reservar uma sepultura, em cuja lápide inscreveu:

Aqui jaz Luís Vaz de Camões, príncipe dos poetas do seu tempo.

Viveu pobre e miseravelmente e assim morreu.

Desde 1880, os seus restos mortais repousam no Mosteiro dos Jerónimos.

Para escutar

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Auto da Barca do Inferno

Síntese dos comportamentos satirizados

Materialismo

Fidalgo
Onzeneiro
Sapateiro
Frade
Alcoviteira
Judeu
Corregedor/Procurador

Hipocrisia
Fidalgo
Sapateiro
Alcoviteira
Corregedor

Exploração dos mais fracos
Fidalgo
Onzeneiro
Sapateiro
Alcoviteira

Roubo

Onzeneiro
Sapateiro
Enforcado

Corrupção
Onzeneiro
Judeu
Corregedor/Procurador

Ingenuidade
Joane
Enforcado

Imoralidade
Fidalgo
Frade
Alcoviteira

Auto da Barca do Inferno - Barca do Inferno


Arrais:
Diabo
companheiro

Comportamento:
acusador
juiz
irónico

Linguagem:
irónico
trocista
azeda
agressiva
mordaz

Observações:
adapta-se às personagens, às circunstâncias e à função


Embarcam:
Fidalgo
Onzeneiro
Sapateiro
Frade
Alcoviteira
Judeu
Corregedor/Procurados
Enforcado

Auto da Barca do Inferno - Barca da Glória

Arrais
Anjo

Comportamento:

acusador
juiz
directo

Linguagem:
incisiva
fria
justa
judiciosa

Observações:
despreza certas personagens não lhes dirigindo a palavra.

Embarcam:
Cavaleiros
Joane

Auto da Barca do Inferno – Os Quatro Cavaleiros

Síntese

Quatro Cavaleiros
Provérbio: Quem não deve não teme

Símbolos cénicos:
cruz de Cristo
escudo
espada


Comportamento:
seguro
decidido

Linguagem:
peremptória (decidida)

Coisas de polvo...

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Aurto da Barca do Inferno - O Enforcado

Síntese

Enforcado (Justiça do século XVI)
Provérbio: Quem mal anda, mal acaba

Símbolos cénicos:
baraço ao pescoço

Comportamentos satirizados:
credulidade
ignorância

Linguagem:
coloquial

Observações:
é facilmente convencido pelo Diabo a entrar na barca do Inferno
morreu enganado, pois disseram-lhe que ia para o Paraíso

Aurto da Barca do Inferno - Corregedor/Procurador

Síntese

Corregedor/Procurador (Magistratura)
Provérbio: As aparências iludem

Símbolos cénicos:
processos
vara
livros

Comportamentos satirizados:
corrupção
materialismo
falsa religiosidade
parcialidade na aplicação da justiça

Linguagem:
identificada com a profissão
vulgar

Observações:
a figura do Procurador completa a do Corregedor

Aurto da Barca do Inferno - O Judeu

Síntese

Judeu
Provérbio: O homem é o lobo do homem

Símbolos cénicos:
bode

Comportamentos satirizados:
corrupção
materialismo
sacrílego

Linguagem:
vulgar
desbragada (descomedida)

Observações:
chama a si mesmo Jema Fará
representa o anti-judaísmo no aspecto religioso
ir à toa: simboliza o carácter errante dos judeus

Aurto da Barca do Inferno - A Alcoviteira

Síntese

A Alcoviteira
Provérbio: Não se pode dissimular um elefante sob um nenúfar

Símbolos cénicos:
arcas
armários
cofres
moças

Comportamentos satirizados:
desvio das moças para a prostituição
hipocrisia
falsidade
pseudo-religiosa
estatuto marginal com aparência benemérita

Linguagem:
doce
suave
lisonjeira
choramingas
directa com o Diabo

Aurto da Barca do Inferno - O Frade

Síntese

Frade (Clero)
Provérbio: O hábito não faz o monge


Símbolos cénicos:
moça
broquel
espada
casco sob o capelo

Comportamentos satirizados:
libertino
mundano: dançarino; esgrimista; cantor

Linguagem:
exuberante

Observações:
Imprime dinamismo ao auto com as suas danças, cantares e a sua lição de esgrima.

Aurto da Barca do Inferno - O Sapateiro

Síntese

Sapateiro (Grupo profissional: artesão; Grupo psicológico: pseudo-religioso)
Provérbio: A ocasião faz o ladrão


Símbolos cénicos:
avental e formas.

Comportamentos satirizados:
ladrão
mentiroso
falso religioso
vive de aparências

Linguagem:
Vulgar (com termos técnicos)

domingo, 25 de janeiro de 2009

sábado, 17 de janeiro de 2009

Auto da Barca do Inferno – Joane, o Parvo (II)

Síntese

Auto da Barca do Inferno – Joane, o Parvo (I)


Os parvos têm, no teatro vicentino, uma função cómica, originada pelos disparates que proferem (cómico de linguagem).

Assim acontece neste auto, embora, em certas ocasiões, o Joane se junte às personagens alegóricas para criticar os que pretendem embarcar e sirva, algumas vezes, de comentador.

Nota: No entanto, a série de insultos que o Joane profere contra o Diabo seria, no século XVI, menos tola pelas referências a pessoas e factos então conhecidos.


sábado, 10 de janeiro de 2009

Aurto da Barca do Inferno - O Onzeneiro (II)

Síntese

Quem tudo quer, tudo perde

Onzeneiro
representante de burguesia comercial

Símbolo:
bolsão enorme

Caracterização:
materialista, usurário, avarento, ganancioso,
explorador dos mais fracos (cobrança de juros elevados).

Linguagem:
vulgar

Comportamento:
avarento, usurário

Aurto da Barca do Inferno - O Onzeneiro (I)

Avarento

Puxando um avarento de um pataco
para pagar a tampa de um buraco
que tinha já nas abas do casaco,
levanta os olhos, vê o céu opaco,
revira-os fulo e dá com um macaco
defronte, numa loja de tabaco...
que lhe fazia muito mal ao caco!
Diz ele então
na força da paixão:
- Há casaco melhor que aquela pele?
Trocava o meu casaco por aquele...
E até a mim... por ele...
João de Deus, Campo de Flores

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

As Moedas

Na cena do Onzeneiro, Gil Vicente critica violentamente uma prática do seu tempo – o empréstimo de dinheiro a juro. Actualmente, este processo é aceite, banal e mesmo essencial.

A propósito da importância do "vil metal" na economia de um país, deixo aqui um brevíssimo quadro da História das Moedas Portuguesas.


Moedas Portuguesas – de D. Afonso Henriques aos nossos dias


Dinheiro
Moeda cunhada no reinado de D. Afonso Henriques, no século XII. O seu nome deriva do Latim denariu e apresenta cruzes cristãs à volta das quais se inscreve o nome Alfonsus.

Morabitino
No século XIII, D. Afonso II mandou cunhar esta moeda – morabitino – inspirada na moeda muçulmana (dinar).

Real
Moeda de cobre cunhada por D. João I, usada entre 1385 e 1433.

Tostão
No século XVI, D. João III mandou cunhar esta moeda que apresenta as cinco quinas dentro de um escudo coroado.

6400 Réis
Em 1749, D. João V mandou cunhar esta moeda de ouro que apresenta o busto do monarca; moeda privada dos reis.

Escudo
Com a implantação da República em 1910, o escudo passou a ser a moeda portuguesa.

Euro
Quando os países da União Europeia decidiram adoptar uma moeda única (com a assinatura do Tratado de Maastricht, em 1992), escolheram chamar-lhe EURO (no Conselho Europeu de Madrid – 1995). No dia 1 de Janeiro de 2002, o Euro passou a circular nos países aderentes, entre eles Portugal.

sábado, 3 de janeiro de 2009